segunda-feira, 25 de junho de 2018

Paraibano faz vaquinha para estudar na Polônia e ser primeiro universitário da família

Henrique Lima foi aprovado na Jagiellonian University e quer arrecadar mais de R$ 33 mil.
Para participar de um programa de liderança na Rússia, em 2017, Henrique Lima levou a bandeira de Mogeiro, no Agreste da Paraíba  (Foto: Henrique Lima/Arquivo pessoal)Com o sonho de ser o primeiro de sua família a conquistar uma graduação, o paraibano Henrique Lima, aprovado na Jagiellonian University, na Polônia, está realizando um financiamento coletivo na internet. O jovem busca levantar R$ 33.857, para poder arcar com o primeiro ano do curso de Relações Internacionais.


Natural da cidade de Mogeiro, no Agreste da Paraíba, o garoto sempre estudou em escolas públicas e foi aprovado para o cursar Ciências da Computação, na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). No entanto, ele contou que queria ir além.
“Resolvi não entrar [na UFCG] para poder tentar vaga em algumas universidades americanas. Inclusive passei em duas [na University of Bridgeport e na University of Oregon], mas não consegui bolsa suficiente, então descobri essa oportunidade da Polônia, tentei a vaga e consegui”, afirmou.
Criado desde os 14 anos pelos avós, pois sua mãe foi para o Rio de Janeiro em busca de uma vida melhor, Henrique relatou que as pessoas de sua família sempre precisaram escolher entre trabalhar ou estudar, de tal modo que alguns não chegaram a concluir o ensino fundamental. Todavia, ele ressaltou, ainda no site em que está levantando a quantia, que quer construir uma trajetória diferente. 
Paraibano foi criado desde os 14 anos pelos avós (Foto: Henrique Lima/Arquivo pessoal)
"Não quero mais ser o nordestino pobre que vai para o Sudeste para trabalhar em serviço mal remunerado. Quero uma história diferente para mim. E quero quebrar esse ciclo através da educação", contou.
Contudo, Henrique também explicou que o valor que está tentando arrecadar por meio da “vaquinha online”, cobre apenas as despesas relacionadas à sua ida para a Cracóvia, na Polônia, e ao primeiro ano de curso.
“Ela oferece bolsa para os alunos que vão pro segundo ano, porque o principal critério é as notas durante o primeiro. Aí eu tenho que pagar o valor da primeira anuidade, pois para os outros anos eu vou tentar a bolsa deles. Também irei trabalhar para me manter, pois estudantes podem trabalhar lá”, disse.
Para fazer os cálculos da quantia aproximada necessária, o estudante se baseou nos valores disponibilizados no site da instituição polonesa e conversou com uma amiga sua, que estuda lá.
Segundo Henrique, a previsão é de que ele gaste 4 mil euros com a anuidade da universidade, ou seja, aproximadamente R$ 17.400; R$ 2.500, com as passagens; R$ 152, com o visto; R$ 4.860, com residência; R$ 3.600 com alimentação; e R$ 372, com transporte. Além disso, o seguro sáude, necessário para viagens internacionais, custa R$ 572 e a plataforma onde está sendo realizada a vaquinha cobra uma taxa de R$ 4.401.
Quanto à barreira linguística, Henrique demonstrou estar tranquilo e disposto a aprender. “O meu curso é todo em inglês, então inicialmente não preciso me preocupar em aprender o polonês. Irei aprender com a convivência e através do curso de polonês oferecido pela universidade”, comentou.
“Sei que são sonhos grandes e difíceis, mas acredito que precisamos sonhar grande na vida, especialmente quando se é alguém como eu, que veio de um lugar tão limitado em oportunidades e de uma família tão humilde”, declarou
O processo seletivo
O estudante fez o ensino médio, com formação técnica em informática, no Instituto Federal da Paraíba (IFPB), em Campina Grande. Na época, viajava 60 km por dia para poder chegar à instituição.
Para participar do processo seletivo, ele realizou a inscrição na plataforma da universidade, pagou uma taxa, enviou a nota obtida por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o histórico escolar e o currículo traduzido. Além disso, para comprovar a proficiência em inglês, ele teve que passar por uma entrevista via internet com a diretora do curso.
Experiência internacional
Em 2017, o paraibano foi o único nordestino e um dos cinco brasileiros selecionados para representar o país durante o “Preparing Global Leaders Summit”, realizado em Moscou, na Rússia.
“É um programa internacional de educação e liderança. São selecionados 60 jovens do mundo inteiro para estudar sobre liderança global, psicologia da liderança e também discutir sobre problemas sociais que são semelhantes nas nossas comunidades”, explicou.
Na Paraíba, Henrique já estava engajado em uma iniciativa do IFPB, que visa a inclusão de estudantes surdos. Por meio do trabalho feito no Laboratório Multidisciplinar de Pesquisas e Estudos sobre Educação, Cultura, Juventude e Trabalho (LAMPEJU), foram adaptados materiais didáticos e foi desenvolvido um dicionário eletrônico de imagens para ajudar alunos surdos no processo de iniciação científica.
Entretanto, o estudante contou que a possibilidade de participar do programa internacional mostrou novos horizontes para sua vida acadêmica. “A experiência foi incrível, foi minha primeira experiência internacional. O networking com jovens de vários lugares, sério, isso foi incrível”, disse entusiasmado.
O estudante ainda destacou que essa viagem só foi possível graças a outro financiamento coletivo realizado, já que parte das despesas não eram cobertas pela bolsa. “Uma campanha igual a essa. E foi surreal, porque eu tive que conseguir R$ 9 mil e eu consegui, para poder viajar”, comentou.
Com o sonho de ser diplomata, o objetivo de Henrique é utilizar o conhecimento adquirido durante todas essas experiências para fortalecer a discussão de problemas entre os jovens de sua comunidade, além de valorizar a educação inclusiva, de acordo com o estudante.
“Sou motivado pela possibilidade de mudar a realidade da minha comunidade e de muitos brasileiros. Acredito que não estou sozinho e esta mudança acontecerá através dos jovens”, pontuou.
Fonte: Redação do Portal Vale do Piancó Notícias com G1