Segundo a denúncia do Ministério Público da Paraíba, há fortes
indícios de que Leto Viana (PRP) - preso durante a Operação Xeque-Mate
da Polícia Federal na terça-feira (3) - comprou seu primeiro mandanto em
novembro de 2013, quando então era vice-prefeito, mediante pagamento de
R$ 4,5 milhões ao então prefeito eleito na sua chapa, José Maria de
Lucena, conhecido como Luceninha.
O ex-presidente da Câmara de Cabedelo, Lucas Santino, - que foi o
colaborador premiado da operação - afirmou ter acompanhado a negociação
de perto por ser o chefe da Casa na ocasião. Com a renúncia de
Luceninha, Leto Viana, que era o vice na chapa, tomou posse na
Prefeitura de Cabedelo.
De acordo com a denúncia, parte desse dinheiro, R$ 500 mil, foi
levado para o ex-prefeito dentro de uma mala pelo apresentador de TV,
Fabiano Gomes, e pelo então secretário de Comunicação Olívio Oliveira.
Além disso, seriam pagos R$ 70 mil em cargos - por um período de 40
meses.
Nesta terça-feira (3), a PF cumpriu 11 mandados de prisão preventiva
durante a Operação Xeque-Mate. Todos foram presos, incusive o prefeito
de Cabedelo, Leto Viana (PRP), e mais cinco vereadores.
O ex-prefeito de Cabedelo Luceninha afirmou que a Polícia Federal tem
competência para apurar e que tem a consciência tranquila, mas que não
vai comentar mais sobre a operação. O G1 não conseguiu falar com o
ex-secretário Olívio Oliveira.
Em nota, o apresentador Fabiano Gomes afirmou que recebeu a notícia
da denúncia com surpresa, questionou a veracidade das colaborações de
Santino e pediu que provas fossem apresentadas.
“Tenho muitos defeitos. Os processos que respondo na Justiça são
todos relacionados a crimes de imprensa, por minha atuação destemida no
Jornalismo paraibano. Mas roubar, corromper dinheiro do povo, este
precisamente não tenho. Toda a minha contabilidade e de minhas empresas
são limpas e devidamente declaradas. Portanto, não tive, tanto com
Luceninha, quanto com Leto Viana, nenhuma relação pessoal ou fora dos
serviços de marketing prestados àquela campanha [eleições de 2012]”,
afirmou.
Ele ainda ressaltou que nem ele nem suas empresas foram alvo de
nenhuma ação da Polícia Federal. “Acredito na Justiça e estou à
disposição dela e de quem quer que seja para qualquer esclarecimento,
inclusive, abrir todo o meu sigilo bancário e telefônico para as
autoridades policiais, a fim de colaborar sempre com a promoção da
verdade e no trabalho judicial e investigatório”, declarou.
A Prefeitura de Cabedelo informou, por meio de nota, que recebeu a
notícia da investigação em andamento com "calma", e garante o pleno
funcionamento da máquina pública, sem prejuízo à população. "Seguimos
confiando na Justiça e aguardando determinações judiciais", diz o texto.
Operação Xeque-Mate
A operação Xeque-Mate acontece em conjunto com o Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público da Paraíba e tem como objetivo desarticular um esquema de corrupção na administração pública no município localizado na região da Grande João Pessoa.
A operação Xeque-Mate acontece em conjunto com o Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público da Paraíba e tem como objetivo desarticular um esquema de corrupção na administração pública no município localizado na região da Grande João Pessoa.
De acordo com o superintendente regional da PF na Paraíba, André
Viana Andrade, foram apreendidos R$ 300 mil reais em dinheiro durante a
ação, inclusive nas casas do prefeito Leto Viana e do presidente da
Câmara de Cabedelo, Lúcio José do Nascimento Araújo.
Ao ex-vereador Lucas Santino foi oferecido a extinção da pena de
alguns crimes. Ele informou à Polícia Federal que o prefeito de Cabedelo
forçou uma CPI para atrapalhar o trabalho do ex-presidente da Câmara.
Ele confessou à PF que cometeu os crimes apontados na CPI, mas alegou
que outros foram cometidos por colegas.
A Polícia Federal cumpriu ainda 15 sequestros de imóveis e 36 de
busca e apreensão expedidos pelo Tribunal de Justiça da Paraíba. Além
dos mandados, a Justiça decretou o afastamento cautelar do cargo de 85
servidores públicos, incluindo o prefeito e o vice-prefeito de Cabedelo,
e o presidente da Câmara Municipal. Cinco vereadores, dos 15 eleitos,
são alvo da operação. De acordo com o delegado Fabiano Emídio, "as
pessoas estão sendo para que seja estancada sangria dos cofres
públicos".
Lista dos alvos dos mandados de prisão
Wellington Viana Franca (Leto Viana) - Prefeito
Jacqueline Monteiro Franca (PRP), esposa de Leto - Vereadora e vice-presidente da Câmara
Lúcio José do Nascimento Araújo (PRP) - vereador e presidente da Câmara
Tércio de Figueiredo Dornelas Filho (PSL) - vereador
Rosildo Pereira de Araújo Júnior, "Júnior Datele" (PEN) - vereador
Antônio Bezerra do Vale Filho, "Antônio do Vale" (PRP) - vereador
Marcos Antônio da Silva dos Santos
Inaldo Figueiredo da Silva
Gleuryston Vasconcelos Bezerra Filho
Adeildo Bezerra Duarte
Leila Maria Viana do Amaral
Vereadores de Cabedelo afastados
Josué Góes (PSDB)
Belmiro Mamede (PRP)
Rogério Santiago (PRP)
Rosivaldo Galan (PRP
Wellington Viana Franca (Leto Viana) - Prefeito
Jacqueline Monteiro Franca (PRP), esposa de Leto - Vereadora e vice-presidente da Câmara
Lúcio José do Nascimento Araújo (PRP) - vereador e presidente da Câmara
Tércio de Figueiredo Dornelas Filho (PSL) - vereador
Rosildo Pereira de Araújo Júnior, "Júnior Datele" (PEN) - vereador
Antônio Bezerra do Vale Filho, "Antônio do Vale" (PRP) - vereador
Marcos Antônio da Silva dos Santos
Inaldo Figueiredo da Silva
Gleuryston Vasconcelos Bezerra Filho
Adeildo Bezerra Duarte
Leila Maria Viana do Amaral
Vereadores de Cabedelo afastados
Josué Góes (PSDB)
Belmiro Mamede (PRP)
Rogério Santiago (PRP)
Rosivaldo Galan (PRP
Segundo o Gaeco, o tual vice-prefeito Flávio de Oliveira foi afastado
do cargo, mas não foi preso. De acordo com informações da Polícia
Federal, a esposa do prefeito, Jacqueline Monteiro Franca (PRP), esposa
de Leto, que é vereadora e vice-presidente da câmara municipal, também é
alvo de mandado de prisão. De acordo com a PF, ela era responsável
pelos contratos fraudulentos. O casal gastou milhões em imóveis com
dinheiro desviado, e dispõe de um estilo de vida incompatível com a
renda.
Empresário investigado no esquema
Equipes da Polícia Federal também cumpriram mandado de busca e apreensão na casa do empresário Roberto Santiago, em João Pessoa. Segundo a PF, há indícios de que houve a compra de vereadores de Cabedelo para impedir a construção do shopping Pátio Intermares.
Equipes da Polícia Federal também cumpriram mandado de busca e apreensão na casa do empresário Roberto Santiago, em João Pessoa. Segundo a PF, há indícios de que houve a compra de vereadores de Cabedelo para impedir a construção do shopping Pátio Intermares.
O advogado do empresário, Marcos Pires, confirmou que Roberto
Santiago não foi preso. "Não tenho nada a declarar, só vim prestar minha
solidariedade ao amigo Roberto Santiago, empresário respeitado, bem
quisto e de boa índole. Vamos nos reunir no shopping e a partir daí,
ficar a par do que está acontecendo e o que será feito de nossa parte",
explicou o advogado do empresário.
O próprio empresário divulgou uma nota nesta terça-feira. "Construí
minha vida tendo como signo o trabalho honesto e estou profundamente
surpreso com a operação ocorrida hoje. Tenho a plena convicção de que
não cometi nenhum ato ilícito e não tenho qualquer relação
administrativa ou funcional com os Poderes Executivo e Legislativo de
Cabedelo. Estou, e como sempre estive, colaborando e à disposição da
Justiça e das Instituições", disse.
O G1 entrou em contato com o procurador de Cabedelo, Sandro
Magalhães, e ele informou que ainda está recebendo informações para
poder emitir um posicionamento oficial. “Fomos pegos de surpresa. Vamos
avaliar todo cenário para poder se posicionar. “Vou me reunir com alguns
secretários, devo passar na superintendência da PF para acompanhar a
situação. Talvez no final do dia, teremos uma posição”, afirmou.
Desvios milionários e patrimônio muito superior à renda
Segundo as investigações, o grupo teria desviado ao menos R$ 30 milhões, sendo R$ 4,8 milhões somente utilizando cargos fantasmas. A investigação foi desencadeada a partir de uma colaboração premiada do ex-presidente da câmara Lucas Santino. O colaborador da Polícia Federal contou aos investigadores que o atual prefeito, inicialmente eleito como vice-prefeito em 2012, teria pago R$ 5 milhões ao ex-prefeito Luceninha para assumir o mandato.
Segundo as investigações, o grupo teria desviado ao menos R$ 30 milhões, sendo R$ 4,8 milhões somente utilizando cargos fantasmas. A investigação foi desencadeada a partir de uma colaboração premiada do ex-presidente da câmara Lucas Santino. O colaborador da Polícia Federal contou aos investigadores que o atual prefeito, inicialmente eleito como vice-prefeito em 2012, teria pago R$ 5 milhões ao ex-prefeito Luceninha para assumir o mandato.
Durante as investigações, ficou comprovado a participação das
principais autoridades públicas do município que se beneficiavam do
esquema de diversas formas, tendo registrado aumento patrimonial muito
acima do condizente com sua renda. De acordo com a Polícia Federal,
somente na aquisição de imóveis nos últimos cinco anos, verificou-se que
um agente político envolvido movimentou mais de R$ 10 milhões à margem
do sistema financeiro oficial.
Em um dos esquemas, foram detectados funcionários fantasmas da
prefeitura e da câmara municipal que recebiam salários de até R$ 20 mil e
entregavam a maior parte para as autoridades locais, ficando de fato
com valores residuais. Foram constatadas ainda doações fraudulentas de
imóveis do patrimônio público municipal, bem localizados e de alto
valor, para empresários locais sem que houvesse critérios objetivos para
a escolha do beneficiado.
Os envolvidos vão responder por formação de organização criminosa,
corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e fraude licitatória. O
prefeito Leto Viana, em específico, vai responder ainda por crime de
responsabilidade na esfera da administração pública. O Ministério
Público e a PF disponibilizam um endereço eletrônico para denúncias
relativas à investigação.