Explodia
a violência em Porto Príncipe, em 2004, quando o Brasil assumiu o
comando militar da missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti
(Minustah). O país caribenho vivia em guerra civil, com gangues armadas,
depois da renúncia do presidente Jean Bertrand Aristide. Passados 13
anos, a operação tem data para acabar: até 15 de outubro deste ano,
todos os militares do Brasil e dos outros 15 países que compõem a missão
deixarão o Haiti.
E um
itaporanguense faz parte dessa história: o jovem cabo do Exército
Brasileiro, Cassiano Pereira (na foto recebendo o carinho de garotos
haitianos, tendo os colegas de farda logo atrás). Único Itaporanguense a
ter participado dessa missão, Cassiano disse em contato com o blog
neste sábado (20) estar muito feliz: "Estou muito feliz por representar
nossa terra!". Cassiano é lotado no 15º Batalhão de Infantaria
Motorizado [15º BIMtz], sediado em João Pessoa.
Em todo esse
período, além da miséria extrema, a operação ganhou novos contornos e
perfil principalmente depois do terremoto de 2010, que deixou 220 mil
mortos. A par do desgaste de mais de uma década, militares passaram a
ter papel social e humanitário, ajudando na reconstrução do país.
Até outubro,
terão passado pela missão aproximadamente 37 mil militares dos 15
países, incluindo o último contingente de 950 profissionais. Foram
30.359 integrantes do Exército, 6.299 da Marinha e 350 da Aeronáutica. O
Ministério da Defesa considera que os maiores desafios enfrentados pela
tropa brasileira na Minustah foram a pacificação da comunidade de Cité
Soleil, a atuação durante o terremoto em 2010 e a ação decorrente do
Furacão Matthew.
“O comando
militar da operação por parte do Brasil, por decisão da ONU [Organização
das Nações Unidas], representa grande prestígio e experiência para o
país, além de ser uma representação de projeção de poder muito
importante”, analisa o professor de relações internacionais Antonio
Jorge Ramalho, da Universidade de Brasília (UnB). Para ele, após tantos
anos de operação, as forças policiais no Haiti precisam ter condições de
manter a segurança de forma autônoma.
Reconhecimento -
Pesquisador de segurança internacional, Ramalho dirigiu o Centro de
Estudos Brasileiros no Haiti entre 2006 e 2008. “Depois do período mais
crítico, nos primeiros anos de operação, os haitianos passaram a
observar militares de capacetes azuis em ações também de reconstrução em
nível de excelência. Foi a primeira vez na história que os haitianos
viram militares construindo algo”, afirma.
Obras de engenharia tocadas por militares passaram a fazer parte da rotina em um espaço que antes era ocupado pela violência.
Procurado pela
Agência Brasil, o Ministério da Defesa afirmou que a participação dos
militares brasileiros passou a ser reconhecida pelo povo haitiano e por
autoridades internacionais pela “desenvoltura com que combinam funções
militares, como o patrulhamento, com atividades sociais e de cunho
humanitário”. No ano passado, após a passagem do furacão Matthew, que
causou cerca de 900 mortes, as tropas brasileiras também tiveram funções
de reconstrução de estradas e pontes para a chegada de ajuda
humanitária.
Para Ramalho, a
participação dos brasileiros na operação colaborou para aperfeiçoar os
sistemas de comando e controle, bem como para acionar recursos junto aos
poderes Executivo e Legislativo. “Incluindo recursos materiais e
humanos. Na formação de militares para operações reais, por exemplo, foi
necessário cuidar de forma especial das regras de participação e
engajamento”, afirma Ramalho. Ele testemunhou que os brasileiros
passaram a ser vistos como "parceiros" e admirados.
Custos - Ao
mesmo tempo, a operação, ao longo de 13 anos, também sofreu resistências
de comunidades em um Haiti que passou a enxergar a Minustah como uma
tropa de ocupação. “Em tanto tempo, sempre há desgastes naturais”, diz o
professor. No Brasil, a participação na missão também foi questionada,
em função dos gastos. De 2004 até o final do ano passado, os
investimentos do Brasil com a Minustah chegaram a cerca de R$ 2,5
bilhões, segundo dados disponíveis no Sistema Integrado de Administração
Financeira do Governo Federal (SIAFI).
O Ministério da
Defesa reconhece um aumento “significativo” dos gastos após o terremoto
de 2010. Foram reembolsados pela ONU, até agora, cerca de R$ 431,3
milhões. Há aproximadamente mais R$ 500 milhões pendentes. Os valores
devolvidos cobrem os gastos com o emprego da tropa na missão de paz.
Futuro - O fim
das operações está programado para acontecer até 1º de setembro e 90% do
efetivo deve deixar o Haiti até o dia 15 do mesmo mês. Depois, por um
mês, os 10% do efetivo restantes cuidarão do envio dos materiais e
sairão do país. O Ministério da Defesa aguarda um convite para integrar
outra missão de paz, caso o Congresso Nacional autorize.
O Brasil já
participou de mais de 33 missões das Nações Unidas e enviou mais de 50
mil militares no exterior. “Atualmente, além do Haiti,o Brasil também
possui integrantes nas missões de paz no Líbano, Chipre, Costa do
Marfim, Libéria, República Centro-Africana, Saara Ocidental, Sudão e
Sudão do Sul. Os militares atuam principalmente como integrantes em
Estado Maior e como observadores em áreas pacificadas", informa o
Ministério da Defesa.
Agencia Brasil