Lucas (nome fictício) foi adotado há duas semanas.
'Quero me divertir', é a única pretensão que Lucas tem para o futuro.
Autor: Imagens mostram o contraste entre a luz e a escuridão
Aos seis anos de idade, Lucas (nome fictício) nasceu de novo. Ganhou
nova vida quando começou a crescer nos braços de uma família que o
adotou como filho e como mudança. Após dez anos tentando engravidar,
Kelsilene Colaço resolveu cadastrar todos os documentos na Vara da
Infância, fazer cursos e ouvir palestras para não adiar mais um o sonho
de ser mãe. No entanto, ao invés de esperar a sua vez numa fila que a
colocava em 150º, resolveu buscar a felicidade.
“Chamamos busca ativa”, conta Kelsilene. Ela conheceu uma Organização
Não Governamental (ONG) que realiza um trabalho didático e pedagógico
com pais que colocam a adoção como meta de vida. Nesse sentido, a
buscativa existe como uma procura, assim mesmo, ao pé da letra. O foco
são cidades do interior onde existem muitas crianças para serem adotadas
e poucos pais habilitados para isso. É uma conta que não fecha. No
entanto, Kelsilene resolveu facilitar a matemática.
Lucas, com seis anos, era um menino em busca de uma família que o
recebesse. Ele queria pessoas que pudesse chamar, verdadeiramente, de
mãe e pai. Kelsilene e Jorge, por outro lado, queriam uma criança para
chamar de filho e amar como tal. Cuidar. Criar. A conta agora é exata. O
resultado não quebra. Estão começando a aprender, portanto, a dividir.
Por ir em busca de fazer o bem para si e para o outro, Kelsilene
esperou apenas um ano desde que decidiu de vez adotar uma criança. No
entanto, a gravidez sem feto já durava mais de dez anos e só agora é que
o parto aconteceu. Ele chegou já crescido, com uma energia que médico
nenhum explicaria. Sorriso de um canto a outro do rosto, Lucas encontrou
em Kelsilene e Jorge o presente de dia das crianças, celebrado nesta
quarta-feira (12), que esperou tanto tempo para receber.
Passo a passo da felicidade
Era em Pedras de Fogo que Lucas escondia a expectativa de ser
adotado. Quando conseguiu encontrar os pais que estariam ao seu lado
todos os dias, transformou a felicidade em uma brincadeira de
esconde-esconde com o futuro pai.
“Quando saiu minha sentença (habilitação para adotar) eu fui para o
interior, para Pedras de Fogo. O promotor assinou a minha autorização na
instituição e a assistente social já me levou até lá”, disse Kelsilene.
Mãe e pai chegaram à visita com a notícia de que uma criança se
enquadrava no perfil estabelecido. Kelsilene já sabia que, na sua
frente, aparecia uma criança que em algumas semanas seria o seu filho.
Lucas, no entanto, não esperava por isso, já que muitos passam e poucos
escolhem ficar.
Chegaram, enfim, na instituição. Nasceu. Era menino. Era Lucas. Viria
com saúde, prontinho para ser feliz em um mundo desenquadrado, livre,
sem muros. Chegaria como um explorador, prestes a desbravar um novo
terreno que acaba de conhecer. Mãe, pai e filho se conheceram.
Na visita seguinte, mais um dia passaram juntos. Na terceira, já
estavam explorando as ruas da cidade lado a lado. Depois disso, Lucas
foi firme: “eu não quero mais voltar, eu quero ficar com você". "Vou
falar com o juiz, eu quero ficar, não quero mais voltar”, insistiu. Os
finais de semana foram se tornando, então, rotina. Lucas contava as
noites que precisava dormir na Terra - como ele mesmo chama a
instituição que fazia parte - para chegar o dia em que dormiria fora
dela. Dessa vez, embaixo de um teto, não na rua como conta a história
antes de chegar ao abrigo.
Vida nova
Há duas semanas, Lucas deixou para trás a história de abandono, maus
tratos e de fome, ao lado de pais alcoólatras. Com quatro irmãos que já
foram adotados, agora é a vez dele de ganhar o mundo. Kelsilene e Jorge,
além de pais, se tornaram também lar. Aconchego. A rua agora é
diversão. Abandono, só se for do brinquedo que não serve mais. Uma nova
história começa a ser contada e Lucas demonstra, com energia e alegria,
que está ansioso para começar a escrevê-la.
Quando chegou na nova casa, o pequeno deu de cara com duas escovas de
dente. “Tenho duas aqui, na minha casa eu não tinha nenhuma”, disse.
Hoje, pensa em apenas uma única coisa: “eu quero me divertir”. A rotina
de mãe e pai chegam também para Kelsilene e Jorge. Lucas abriu a porta e
os deixou entrar. Difícil agora é deixá-los sair.
Se o casal tivesse esperado pela fila da adoção da Vara da Infância,
estariam hoje no número 150º e Lucas, por certo, ou ainda estaria na
Terra ou nos braços de outra família. O caminho parece longo, mas a
satisfação é expressa no rosto de alegria da mãe e do filho. Um presente
de dia das crianças chegou na casa da nova família. O pacote é grande e
bonito. No cartão vem escrito "sejam felizes".
Fonte: Redação do Portal Vale do Piancó Notícias com G1