José Patriota, além de pai, é também avô de duas netas.
Ele escreveu um verso de poesia para cada filho.
Autor: Redação do Portal
José Carlos Patriota é conhecido pelos familiares e amigos como Zé.
Zé do sorriso frouxo e humor cotidiano. Zé, morador de João Pessoa, de
chinelos nos pés e óculos com lentes laranjas, no melhor estilo Xico Sá.
Zé, nessa mistura de juventude e maturidade, é quatro vezes pai.
Tem 57 anos e leva no coração a saudade de dois filhos que a vida
levou cedo demais. Mas nutre também o amor natural de um pai por filhos
de sangue, o carinho cultivado por uma criança - hoje adulta - que
resolveu abraçar como pai e a doçura de ser avô de duas netas. “Sou um
pai misturado”, é como se define. Zé tem um só coração, biologicamente
pequeno, mas gigantesco e que abriga um total de cinco filhos.
Rafael, Ramon, Saulo, Caína e Jullie. São esses os nomes das cinco
pérolas que fizeram da vida de Zé uma alegria maior. “Cada um deles
representa uma parte da minha vida. Cada um deles é como se fosse uma
projeção da minha própria vida. Uma razão para continuar vivendo e
querer viver mais”, destacou.
Duas partidas prematuras
O primeiro filho do motorista de olhos azuis estaria hoje com 32 anos
se a vida não tivesse mudado a lógica das coisas. Contrarindo a ideia
de Zé, de que os pais devem cuidar do filho a vida inteira, Rafael foi
embora sem se despedir em 2011. “A natureza do pai é cuidar do filho,
porque o amor é tão grande que se não cuidar ele explode”, ressalta. Zé
explode um pouquinho todos os dias. A morte de Rafael foi inesperada e
dolorosa. “É uma chaga que você carrega para o resto da vida. Todos os
momentos você lembra. É uma marca para o resto da vida, não tem como
apagar”, lamentou.
Zé lembra da data exata de quando tudo aconteceu, não é possível para
ele esquecer nem por um segundo a despedida de um filho que nasceu com
festas. Quando Rafael decidiu chegar ao mundo, Zé era um homem de
“farras”, como ele mesmo conta. Não atentava muito para regras e como a
gravidez já havia sido, na época, um desvio de todas elas, já que se
tornaram pais ainda quando namoravam, Zé resolveu ser o homem mais feliz
do mundo sem impedimentos. “Invadi a maternidade com um monte de comida
que não podia, milho assado, canjica. Foi uma loucura”, relembra. Nesse
momento, Zé foi pai pela primeira vez.
Dos cinco filhos, Rafael era o mais próximo. Além de ser o mais
velho, quando pequeno passou por alguns problemas de saúde que o fez se
aconchegar no pai como refúgio e abrigo. Depois da sua partida, Zé que
também é poeta, fez um verso dedicado à saudade que cultiva todos os
dias. “Rafael, a sua ausência não apaga o seu brilho, a minha saudade é
grande do meu amado filho, mas sua estrela me guia para eu não perder o
trilho”, escreveu e tatuou no braço, acima da estrela que carrega em
cada ponta o nome de um filho. Deixou marcado na pele o que nunca
deixará sair do coração.
Ramon também se despediu antes mesmo de conseguir admirar a paixão do
pai. Em apenas quarenta minutos Ramon foi registrado e ganhou ao mesmo
tempo o atestado de óbito. Zé carrega na pele o nome do filho e no
coração a memória de poucos minutos de vida.
Coração também educa
Do primeiro casamento nasceram três filhos: Rafael, Ramon e Saulo.
Quando jovem, queria logo sair de casa e acreditava que era no casamento
que encontraria a liberdade. “Eu casei com 23 anos e meu primeiro filho
nasceu nesse mesmo período”, contou. Em 1993 conheceu a atual esposa e
mãe das duas filhas.
Nesse mesmo ano, Zé conheceria mais um pai dentro de si. Rose, atual
esposa, chegou na vida de Zé acompanhada de Jullie, uma criança de seis
anos não assumida pelo pai. “Com poucos meses de namoro ela perguntou se
podia me chamar de pai e eu disse que se não chamasse ia ser a primeira
vez que daria umas palmadas. Depois Jullie me chamou tanto de pai que
eu já estava mandando ela parar”, brincou.
Jullie não teve contato com o pai biológico e cresceu sob os cuidados
de Zé, que acolheu a pequena como mais uma do seu sangue. Fez de tudo
para a sua felicidade, queria registrar em seu nome, mas Jullie já tinha
registro de nascimento. Colocou o pai biológico na justiça e conseguiu
com que, pelo menos, ele cumprisse com os deveres legais que um pai
assume ao colocar um bebê no mundo. “Acho que ele deve ter se
arrependido”, constatou. “Eu fui e sou até hoje o pai dela. O amor que
eu sinto é o mesmo”, completou.
Para a filha, Zé é o sinônimo de gratidão. Quem é ele? “Painho, né? É
meu pai. Me criou, me educou, puxou minhas orelhas. Realmente é meu
pai, meu tudo, sou eternamente grata”, e se desmancha inteira num
sorriso aberto em sintonia com os olhos. Zé foi o caminho. Agora os
filhos descobrem como fazem para sonhar.
Sem conter as lágrimas, Jullie dispara uma agradecimento sincero.
“Ele foi muito importante pra mim, foi uma fase que eu realmente
precisava muito dele na infância, não tinha consciência de nada”,
revelou. E mistura com a emoção o sorriso de quem encontrou um pai que
vai muito além do sangue. Os corações estão interligados, isso parece
bastar entre os dois.
Pai, avô e poeta
Foi também o coração que lhe deu mais duas filhas. Duas netas. Duas
crianças que transformaram a vida de Zé. Sarah, de 15 anos, e Sofia, de
cinco. “Sarah é altamente carinhosa, mas Sofia se puder me dar uma tapa,
ela dá”, descarrega mais uma vez a brincadeira.
Quando percebeu que o quarto pai nasceria dentro dele, descobriu que ser avô era “um misto de pai com outra coisa”. Esse amor, para Zé, se multiplica. E ele encontra uma maneira muito fácil, simples e humorada para definir os netos. “No neto está o filho e mais alguma coisa, por isso dá o nome de neto, porque tinha que ter algum nome e como não pode ser filho, é neto. É uma sensação muito boa”, contou.
Quando percebeu que o quarto pai nasceria dentro dele, descobriu que ser avô era “um misto de pai com outra coisa”. Esse amor, para Zé, se multiplica. E ele encontra uma maneira muito fácil, simples e humorada para definir os netos. “No neto está o filho e mais alguma coisa, por isso dá o nome de neto, porque tinha que ter algum nome e como não pode ser filho, é neto. É uma sensação muito boa”, contou.
Além de quatros vezes pai, Zé também é poeta. Faz do amor dos filhos a
prosa mais bem contada da sua vida. Escreveu um verso para cada um,
descrevendo a essência de ser pai e de derramar amor entre sorrisos e
abraços.
“Jullie é uma flor que nasceu no meu jardim, é minha filha amada,
guardada dentro de mim, estarei juntinho dela do começo até o fim”,
escreveu para a filha que abraçou como pai quando ela tinha seis anos.
“Caína é minha neném, é minha flor, é alegria, é a estrela do oriente me
guiando para poesia, não enxergo minha vida sem a sua companhia”,
dedicou a Caína, filha de Zé com Rose, mãe das duas meninas.
“Saulo, o meu amor por você é imortal, não viverei sem você, isso
para mim é fatal, conte sempre com seu pai, pois você é o meu sal”,
escreveu para o filho do primeiro casamento, e colocou no verso o
apelido e ao mesmo tempo “o sal da terra”. Por último, declamou o de
Rafael, cujo sorriso é a sua melhor lembrança. “Rafael, seu sorriso é o
que mais gosto de ver, dá sentido à minha vida e eu deixo transparecer o
amor e a amizade que eu sinto por você”.
Após 57 anos de vida, Zé ainda não consegue definir o amor de um pai
por um filho. “É imensurável. É um amor que se multiplica a cada dia”,
disse.