Nesta terça-feira, dia 3 de novembro, o Teatro Santa Roza, patrimônio material do Estado, comemora 126 anos reunindo mais de um século de história, histórias e artes paraibanas. O espaço foi palco de importantes acontecimentos políticos, históricos e culturais. Atualmente, o Governo do Estado trabalha em mais uma reforma, que deverá levar o espaço a outro patamar de utilização.
Este patrimônio tombado do Estado e palco da história paraibana é sempre bem lembrado pelo governador Ricardo Coutinho e o foi inclusive na recente abertura do moderno Teatro Pedra do Reino, localizado no Centro de Convenções de João Pessoa. Apesar da inauguração de modernos equipamentos, o Governo do Estado segue com a preocupação de revitalizar seu patrimônio histórico.
De acordo com a Superintendência de Obras do Plano de Desenvolvimento do Estado da Paraíba (Suplan), desde o fechamento para a reforma, em 2012, diversas obras foram executadas no Teatro. Foram realizados ou estão em processo de reforma: recuperação na cobertura do teatro; polimento no piso em taco de madeira; recuperação nos lambris; recuperação e/ou substituição de janelas e portas (inclusos os camarins); restauração da fonte lateral; revisão na rede elétrica, com especial atenção aos lustres do salão; revisão na rede hidrossanitária; modernização da instalação de prevenção e combate a incêndio; recuperação dos banheiros; troca de todo o sistema de climatização, bem como colocação de um novo grupo gerador; substituição da coberta em telha canal do palco externo; novo projeto de iluminação da fachada e do entorno do teatro; novas pinturas interna e externa. Um dos aspectos mais importantes será a substituição da caixa cênica – construção cúbica que abarca palco e bastidores.
Ao total, a área de recuperação no Teatro é de 2.243,22m². De acordo com a Suplan, o valor do investimento da primeira etapa foi de R$ 907.398,14, e na segunda, R$ 1.608.591,30, totalizando um investimento de R$ 2.515.989,44 no mais clássico teatro da Paraíba, quinto mais antigo do Brasil e patrimônio tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (Iphaep).
Adriana Pio, diretora do Santa Roza, explica que justamente pelo tombamento, com a reforma, não haverá mudança na capacidade de público ou alteração na estrutura da edificação do teatro. Porém, é um equipamento com ótima capacidade de atender a público e apresentações artísticas. A plateia está configurada com 427 assentos; sendo 224 dispostos nos camarotes dos dois pavimentos, 194 no térreo, três para deficientes físicos, três para obesos e três no camarote do governador do Estado.
Para a diretora-superintendente da Suplan, Simone Guimarães, essa é mais uma obra que coloca a Paraíba na rota cultural a nível nacional. “Estamos terminando a conclusão da parte estrutural do Santa Roza – um dos teatros mais antigos do Brasil. Em breve o espaço continuará sendo palco de importantes acontecimentos artísticos/culturais, bem mais preparado e com uma moderna estrutura. Essa intervenção de melhorias é um marco na sua história que vem desde o século XIX, um espaço importantíssimo para o Governo do Estado”, disse. Ainda segundo Simone, para concluir a obra falta apenas a instalação da caixa cênica.
História – O Teatro Santa Roza foi palco de importantes acontecimentos artísticos e históricos da Paraíba, como a assembleia que concebeu a bandeira do Estado; a sessão da Assembleia Legislativa que mudou o nome da capital estadual de Paraíba para João Pessoa – em homenagem ao então presidente (governador) assassinado em 26 de julho de 1930; e ainda funcionou como cineteatro no período de 1911-1941.
A Fundação Joaquim Nabuco, entidade vinculada ao Ministério da Educação, informa que a pedra fundamental para a sua construção foi oficialmente lançada em 2 de agosto de 1852, por meio da Lei Provincial nº 549, durante o governo de Francisco Teixeira de Sá. A edificação ficou sob a responsabilidade da Sociedade Particular Santa Cruz, sendo suspensa em 1882, por falta de recursos financeiros.
A obra foi retomada durante o governo provincial de Francisco da Gama Roza, de onde vem o nome “Theatro Santa Roza”. Existe uma polêmica do “S” e do “Z” na grafia da palavra Roza. Uns defendem que deve continuar com Z por ter sido uma homenagem ao então governador Francisco da Gama Roza e outros, com S, que é a forma etimologicamente correta, proveniente do latim rosa. Há ainda quem defenda que o nome do político Gama Roza se grafava com ‘S’, como a historiadora Fátima Araújo, que lançou um livro sobre a história do Teatro. Atualmente, no entanto, a grafia da fachada segue com ‘Z’.
O espaço foi inaugurado no dia 3 de novembro de 1889, ocasião em que foi apresentado o drama “O Jesuíta – ou O Ladrão de Honra”, de Henrique Peixoto. Doze dias depois da inauguração do teatro, foi proclamada a República no país e Francisco da Gama Roza perdeu seu mandato.
Venâncio Neiva, o primeiro governante republicano da Paraíba, mudou o nome do local para “Teatro do Estado”, ato posteriormente revogado. O político João Pessoa, então candidato à vice-presidência do Brasil, quis mudar a sua localização por considerar aquela área, na época, marginalizada. Todavia, ele foi assassinado antes de conseguir executar o seu plano.
O edifício – que por dentro assemelha-se à proa de um navio – está voltado para o sul e situado no antigo Campo do Conselheiro Diogo, hoje Praça Pedro Américo, centro de João Pessoa. O Teatro é um monumento representativo da arquitetura civil de seu tempo, tem estilo neoclássico com influência greco-romana. Para a construção das paredes foram utilizadas pedras calcárias e para os camarotes e revestimento interno, madeira do tipo Pinho de Riga – hoje considerada madeira nobre. Na época do Brasil Colônia e Império era usada como lastro de rolete em navios que vinham da Europa e descartada quando as embarcações chegavam ao cais do porto de destino, sendo reaproveitadas na construção civil.
Para um teatro com mais de 120 anos, é natural que ao longo desse tempo tenha passado por várias reformas e restaurações, porém todas as intervenções arquitetônicas tiveram a preocupação de conservar o estilo original. O teatro, tombado igualmente pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, é considerado ícone da cultura paraibana e patrimônio do Estado, vinculado à Fundação Espaço Cultural da Paraíba (Funesc).
Mitos e histórias – Quem diria que na “província” João Pessoa estariam aqui artistas suecos, ainda no século XIX, limiar do século XX? E, além disso, terem virado mito, porém, infelizmente, apenas devido a uma tragédia. Em 12 de junho de 1900, o mágico sueco Jau Balabrega e seu assistente Lui Bartelle morreram durante um mal sucedido ensaio de um número de mágica envolvendo fogo. Aparentemente, o mágico e seu assistente foram vítimas de uma explosão com querosene. O caso é relatado no livro de Fátima Araújo e é apenas uma das histórias que rondam o velho Teatro Santa Roza.
Waldemar Dornelas, 73 anos, aposentado este ano como cenotécnico, foi um dos funcionários mais antigos do Teatro Santa Roza, considerado patrimônio vivo pelos funcionários remanescentes. Dornelas já ouviu diversas histórias do Teatro ao longo dos 39 anos em que trabalhou no local. Histórias dentro e fora do aspecto artístico. Sobre um incidente envolvendo mágica, o ocorrido que chegou a seus ouvidos difere do acidente com os suecos.
“Esse mágico (que não lembro o nome) tinha uma apresentação. Seu truque era fazer uma caveira voar do palco até o camarote do governador. Mas chegou o responsável pela eletricidade e acionou a luz geral, estragando seu número. Muito decepcionado, após chegar ao Hotel Pedro Américo, se enforcou pelo desgosto”, contou “Seu” Waldemar.
Há também “causos” sobre os porões do velho Teatro. Diz-se que, antigamente, era onde escravos eram torturados e executados e mulheres eram violentadas. Waldemar Dornelas conta que, certo dia, a esposa de um tenente, junto com alguns religiosos, queria examinar o porão, dizendo que o teatro “estava muito carregado”.
Segundo Waldemar, esta mulher desceu ao porão – local um pouco bagunçado, onde se guardavam cenários antigos. “Todo mundo saía sujo, mas ela entrou, mexeu em várias coisas e saiu com o vestido limpo e branco como coco e com os cabelos arrumados”, relatou o funcionário aposentado de caso ocorrido há vários anos. Como parte dos “trabalhos”, também colocaram um jarro com uma flor em cada canto do teatro. Depois disso, nada mais do que era relatado aconteceu. Waldemar afirma que ele nunca presenciou nenhum dos relatos, mas alguns técnicos e atores relatavam visões, puxões ou empurrões no palco. “Depois das florezinhas, nada mais aconteceu”, disse.
Waldemar Dornelas é um patrimônio humano deste legado que é o Santa Roza. “Se o teatro for uma religião, foi a que eu escolhi”, relata “Seu” Waldemar, ao relembrar ‘causos’, histórias, grandes autores e atores que conheceu, além de importantes peças encenadas no mais antigo teatro do Estado. O Santa Roza tem história e histórias. Em breve, voltará a ser palco de mais narrativas.
Advindo de www.paraiba.pb.gov.br