Se as provas do Enem
(Exame Nacional do Ensino Médio) fossem de comer, elas teriam um gosto
inconfundível. Sabe por quê? Por causa de um ingrediente que é salpicado
em praticamente todo o seu recheio: o uso de temas da atualidade.
Não importa se a
pergunta é de português, matemática, química ou geografia. Ela sempre
pode vir com pitadas (mais ou menos intensas) de assuntos que dizem
respeito a problemas do mundo contemporâneo.
Portanto, prepare-se
para se informar sobre a situação social, econômica, política e
ambiental do Brasil e de outros países. Com toda a certeza, essas noções
de atualidades ajudarão muito na hora de colocar a mão na massa nos
dias 24 e 25 de outubro, as datas do exame.
Pensando nisso, o UOL preparou uma lista de dez assuntos contemporâneos nos quais é importante se ligar. É partir dela para uma leitura constante e crítica de jornais, revistas e portais de notícia. O material foi elaborado a partir de sugestões dos professores de geografia Rui Calaresi, do Cursinho da Poli, e Danilo Simões, da Oficina do Estudante.
As atualidades que podem cair no Enem
1 Guerra civil na Síria
Há alguns anos, os
telejornais têm sido preenchidos todos os dias com uma escalada de
imagens de violência e histórias de tragédias humanas vindas de um país
do Levante, a Síria. Um dos fatores por trás dessa crise é a guerra
civil que começou ali em março de 2011. O conflito fratricida foi
estimulado, entre outras causas, por uma luta étnica e política entre a
oposição sunita e o regime do presidente Bashar al-Assad, que é alauíta.
Inicialmente, as
insurgências contra o governo, visto por muitos como ditatorial, se
inseriram entre as manifestações da chamada Primavera Árabe, um termo
inventado por ocidentais para designar uma série de revoltas contra
políticas repressoras de alguns países do Oriente Médio e do norte da
África a partir de 2010.
Nesse contexto de
fragmentação do poder central da Síria, grupos extremistas ganharam
terreno. É o caso do Estado Islâmico, que passou a controlar cerca de
metade do território do país, incluindo a região da antiga cidade de
Palmira. O Estado Islâmico, que surgiu no Iraque, tornou-se mais
conhecido por divulgar vídeos em que seus prisioneiros são executados de
modo cruel (muitas vezes, por meio da degola, enquanto a vítima está
viva e consciente).
Mais de 200 mil pessoas
já morreram na Síria em função da guerra. Segundo a ONU (Organização das
Nações Unidas), também em decorrência da guerra existem mais de quatro
milhões de refugiados sírios espalhados pelo mundo, inclusive no Brasil.
Esse grande deslocamento humano, principalmente no sentido dos países
ricos do oeste e do norte Europa, é um dos maiores da história
contemporânea. Outros milhões de pessoas tiveram que migrar no interior
da própria Síria, abandonando suas casas definitivamente.
2 Migrações em massa
A crise na Síria é um
dos principais motores da atual migração em massa de pessoas do Oriente
Médio para a Europa. Mas não é o único. E nem a Europa é o único destino
dos refugiados no mundo, embora seja, atualmente, um dos mais visados.
É o caso de pessoas de
diversas nacionalidades que cruzam diariamente o Mar Mediterrâneo com o
objetivo de chegar à costa de algum país europeu (em especial, a Grécia e
a Itália). Elas fazem isso usando botes sem nenhuma segurança,
fornecidos por traficantes baseados no norte da África, o que costuma
levar a naufrágios com dezenas de mortes. Entre esses imigrantes, estão
muitos eritreus, nigerianos e somalis.
A Eritréia, um país do
chamado Chifre da África, península situada ao nordeste do continente,
se tornou independente da Etiópia em 1993, após uma prolongada guerra de
libertação. Desde então, outras guerras (com o Iêmen e novamente com a
Etiópia) assolaram o país, comandado pelo mesmo presidente desde a
independência. Como o serviço militar é obrigatório e sem prazo para
terminar, há uma fuga intensa de habitantes do país. Segundo a ONG Human
Rights Watch, na Eritreia não existe multipartidarismo nem liberdade de
imprensa. Denúncias dão conta de que a repressão política é frequente
em seu território. Rui Calaresi, professor de geografia do Cursinho da
Poli, destaca que a fome é outro sério problema que acomete o país.
Por sua vez, a Nigéria
vive uma onda de violência no noroeste do país, dominado pelo grupo
insurgente Boko Haram, que já matou civis, além de sequestrar e estuprar
várias mulheres e destruir casas e escolas, levando ao deslocamento
forçado de milhares de pessoas. O governo central, que combate os
extremistas, precisa lidar ainda com corrupção e ataques aos direitos
humanos praticados por membros do seu próprio exército.
Na Somália, outro país
africano vizinho da Etiópia, um longo conflito envolvendo o grupo armado
Al-Shabaab, que controla uma parte do território, desestabiliza a
população, sendo frequentes os assassinatos e as tentativas de fugas.
Para piorar, mesmo as tropas do governo têm sido acusadas de abusos,
inclusive estupros.
Além desses países, o
Afeganistão, na Ásia, e a Líbia, na África, integram a lista de nações
com um grande número de refugiados no exterior. Para o Enem, o estudante
deve ter em conta que o Brasil também recebe refugiados. "Apesar da
crise, o país segue atraindo sírios, haitianos, senegaleses, nigerianos e
bolivianos", diz o professor Danilo Simões, da Oficina do Estudante.
3 Reaproximação de Cuba e EUA
Geograficamente tão
próximos e ao mesmo tempo tão distantes politicamente, Cuba e os Estados
Unidos da América estão em vias de uma reconciliação, após décadas de
um estranhamento cujo principal efeito foi o pesado embargo comercial
imposto sobre a ilha pelo vizinho do norte. Em dezembro de 2014, os
governos de ambos os países (ou seja, dos presidentes Raúl Castro, no
lado cubano, e Barack Obama, no norte-americano) anunciaram os primeiros
esforços para uma reaproximação.
Desde então, alguns
prisioneiros políticos dos dois lados já foram libertados e Cuba foi
retirada da lista de países "patrocinadores do terrorismo" dos Estados
Unidos, onde figurava desde 1982, quando Fidel Castro -- irmão mais
velho do atual dirigente -- ainda comandava a ilha. Naquele momento,
ocupava a Casa Branca o ex-ator Ronald Reagan, um dos mais fanáticos
oponentes do 'comunismo" dos anos 1980. O mundo então ainda se cindia em
dois blocos: um sob a liderança norte-americana, capitalista, e outro
inspirado pelo comunismo de ocasião da URSS (União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas).
A crise entre Cuba e os
Estados Unidos se iniciou em princípios da década de 1960, após a
revolução, em 1959, que derrotou o regime do ditador Fulgencio Batista,
aliado dos norte-americanos, e levou Fidel ao poder central da ilha. A
subsequente aproximação cubana da URSS, ocorrida no auge da Guerra Fria
(o Muro de Berlim estava para começar a ser construído), irritou os
Estados Unidos, que chegaram a treinar um grupo paramilitar de cubanos
com o intuito de destituir o governo castrista, por meio de um golpe. A
ação, que resultou em um episódio conhecido como a invasão da Baía dos
Porcos, fracassou e, até a dissolução da URSS em 1991, levando a Guerra
Fria ao fim, Cuba se manteve como uma incômoda pedra "comunista" em
pleno quintal norte-americano. Como resposta, no decorrer dos anos, o
Congresso norte-americano levantou um poderoso embargo comercial ao
vizinho, proibindo até mesmo o envio de alimentos para a ilha.
Com a iniciativa dos
governos de Havana e Washington, as restrições a viagens aos cidadãos de
ambos os países foram abrandadas, facilitando os deslocamentos de um
lado para o outro. Os milhares de cubanos que moram nos Estados Unidos
também passaram a ter direito de enviar mais dinheiro para os seus
familiares em Cuba, pois o limite anterior, de US$ 2 mil por trimestre,
foi suspenso. Os norte-americanos também já podem constituir alguns
tipos de empresas de capital misto em Cuba.
Entretanto, o avanço, no
sentido econômico, ainda é mais simbólico do que prático, visto que é o
Congresso dos Estados Unidos, e não o governo, que tem poder para
revogar as leis que impuseram o grosso do embargo comercial a Cuba. Esse
é um processo que pode levar anos. A demora, segundo especialistas, faz
as duas partes perderem dinheiro e outras formas de intercâmbio, como o
cultural. Por sinal, o Brasil, como terceiro maior parceiro comercial
cubano, pode se beneficiar dessa reaproximação: nos últimos anos, o país
investiu US$ 975 milhões no porto de Mariel, para onde Cuba pretende
atrair novas indústrias, por meio de incentivos fiscais.
4 Crise na Ucrânia
A Ucrânia, um país
formado após o desaparecimento da URSS (União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas) no início dos anos 1990, vive um momento delicado. Existe
uma cisão dentro de suas fronteiras, o que já levou a conflitos
sangrentos. A porção oeste do país, mais próxima do resto da Europa e
que fala o idioma ucraniano, busca uma aproximação comercial com a União
Europeia. Já o lado leste, vizinho da Rússia e falante da língua russa,
pende para um reforço da aliança com Moscou, principal fornecedor de
gás natural para os ucranianos e boa parte dos europeus -- os gasodutos
de um lado para o outro passam pelo solo da Ucrânia.
Na parte sul do país,
como um apêndice projetado sobre o Mar Negro, está a península da
Crimeia, onde também predominam populações de origem russa. Em fevereiro
de 2014, um grupo armado ocupou prédios públicos da região, hasteando
bandeiras da Rússia. O parlamento local igualmente passou para o domínio
de um grupo favorável à Rússia, instituindo e chancelando um referendo
em que a esmagadora maioria (97%) da população do território votou pela
anexação da Crimeia ao território russo. O resultado dessa consulta
popular foi contestado pela capital ucraniana, Kiev. Dias depois, o
presidente da Rússia, Vladimir Putin, chegou a assinar um acordo
oficializando a incorporação da Crimeia, gerando protestos de líderes do
ocidente da Europa.
O imbróglio e a passagem
da Crimeia para o comando moscovita foram entendidos como uma resposta à
queda do presidente Viktor Yanukovych, favorável a um alinhamento com
Moscou. O dirigente foi destituído depois de se recusar a assinar um
acordo com a União Europeia no final de 2013 -- o que desencadeou uma
série de violentos protestos de rua, especialmente em Kiev, provocando
várias mortes. Para uma parte dos ucranianos, o pacto com o resto da
Europa afastaria o país da Rússia.
A virtual saída da
Crimeia do território ucraniano animou os interesses separatistas da
região da cidade de Donetsk, situada no leste e uma das mais
industrializadas do país, na fronteira com a Rússia. Conflitos armados
na área, entre forças pró-Rússia (apoiadas pelo governo de Putin) e o
exército da Ucrânia, começaram em abril de 2014. Até o início deste ano,
cerca de 5,4 mil pessoas haviam morrido nos confrontos, segundo a ONU
(Organização das Nações Unidas), apesar de um frágil cessar-fogo
acordado entre as partes em setembro de 2014. A ONG Human Rights Watch
informa que mais de um milhão de pessoas ficaram desabrigadas em função
dos embates.
O professor Danilo
Simões, da Oficina do Estudante, explica que, ultimamente, a crise na
Ucrânia "sumiu da mídia, mas as tensões entre o oeste pró-ocidente e o
leste pró-Rússia continuam a alimentar o risco de divisão do país".
5 Desaceleração da economia chinesa
O ano de 2015 foi
marcado por sinais do desaquecimento da economia da China, o que pode
reverberar nas finanças do resto do mundo, inclusive nas brasileiras.
Ora, mas a China está do outro lado do globo... O que ela tem a ver com a
vida da gente no Brasil? Bem, muito. A começar pelo fato de os chineses
serem os nossos principais parceiros de comércio, consumindo 20% das
exportações do país, um patamar que lhes confere um peso relativo muito
grande na balança comercial (resultado de tudo o que importamos e
exportamos).
Apesar disso, há
economistas que suspeitam que os efeitos por aqui ainda não são tão
sérios. Eles sustentam que o motivo das recentes variações nos preços
das commodities (como soja e minérios, que estão entre o que mais
vendemos para fora) resulta de uma maior produção desses bens aqui
mesmo, assim como em outros países que costumam exportá-las, entre eles
os Estados Unidos da América.
Voltando à China, a
desaceleração de que tanto se fala no noticiário está longe de
significar recessão. O que acontece é que a economia chinesa continua (e
deverá continuar) crescendo, mas num ritmo menor. Na década passada, o
mundo parecia ter se acostumado ao incremento vertiginoso do PIB
(produto interno bruto) do país mais populoso do planeta, sempre perto
dos 10% ao ano, o que beneficiava todo o sistema econômico
internacional, em particular os vendedores de commodities, como o
Brasil. Agora, a projeção é de que essa variação fique em 6,8% neste ano
e em 6,3% em 2016 ? no ano passado, a China fechou em 7,4%.
De qualquer forma, as
atenções estão voltadas para o desempenho daquele mercado asiático, o
segundo maior do mundo. O minério de ferro, um dos itens mais vendidos
para a China pelos brasileiros, enfrenta uma queda na demanda daquele
país em virtude da desaceleração, fazendo com que investimentos diminuam
por lá no setor imobiliário, um dos maiores consumidores de aço.
6 Austeridade fiscal
Todo o mundo ouviu falar
bastante da austeridade fiscal nos últimos tempos. Seja na Grécia, seja
no Brasil, o assunto tem dominado os debates na imprensa. Mas de que se
trata? Basicamente, de ajustes que os governos desses dois países vêm
adotando para tentar equilibrar as suas contas, já que tanto gregos
quanto brasileiros gastaram mais do que podiam nos últimos anos. Os
cortes são criticados pois atingem áreas delicadas, como programas
sociais.
No caso da Grécia, a
situação começou a piorar no fim da década passada, agravada com a crise
mundial de 2008. Desde então, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e a
União Europeia injetaram centenas de bilhões de euros para que o país
pudesse sanar parte das dívidas. Em meados deste ano, o assunto voltou à
tona porque o governo deixou de pagar duas parcelas do que deve ao
FMI.
Muito se especulou a
respeito de calote e de uma possível saída da Grécia da zona do euro. Em
julho, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, eleito em janeiro
pelo partido Syriza, de esquerda, convocou um referendo em que a maioria
da população o apoiou na decisão de não admitir as duras condições
impostas pelos credores estrangeiros para que a Grécia pudesse receber
mais ajuda financeira. Contudo, o governo grego cedeu à pressão da União
Europeia, encabeçada pela primeira-ministra alemã, Angela Merkel, e
acabou aceitando as duras regras impostas para a obtenção do resgate
financeiro. As medidas de austeridade incluem cortes nas aposentadorias e
aumento de impostos. Tsipras renunciou, mas foi reeleito para um novo
mandato.
No Brasil, a economia
enfrenta uma recessão técnica. Nos dois primeiros trimestres deste ano, o
PIB (produto interno bruto) do país recuou em vez de crescer. Esse é o
resultado de um processo iniciado desde o início dos anos 2010, com a
desaceleração da economia. No ano passado, o país fechou as contas com
um déficit de R$ 17 bilhões.
E a situação pode não
mudar no curto prazo. A proposta orçamentária para 2016 enviada ao
Congresso pelo governo da presidente Dilma Rousseff já prevê um déficit
de R$ 30,5 bilhões.
Para tentar evitar esse
rombo nas finanças do país, o Executivo estuda cortes e até o
estabelecimento de um novo imposto -- as duas medidas têm como meta
colocar dinheiro no caixa do governo, a fim de que ele tenha reservas
para honrar as dívidas com os seus credores (especialmente rentistas do
mercado especulativo), evitando a fuga de recursos. A situação se
complica em função da instabilidade política que assola o governo e
parte do Legislativo. Em setembro, para piorar, uma agência de
classificação de risco norte-americana rebaixou a nota do Brasil,
retirando o seu grau de investimento. Especuladores internacionais
costumam levar em conta essas avaliações antes de aplicar o dinheiro em
determinado país.
O ajuste fiscal
preparado pelo governo poderá reduzir gastos na saúde e na habitação,
além de tornar mais difícil o acesso a benefícios trabalhistas. O
professor Danilo Simões, da Oficina do Estudante, recomenda aos
candidatos do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) que tenham uma
"noção de cortes de gasto e superávit primário e sua imposição sobre
economias como Grécia e Brasil gerando retrocessos sociais e estagnação
econômica."
7 Desertificação e falta de água
Uma das recomendações do
professor de geografia Danilo Simões, da Oficina do Estudante, é que os
alunos se atentem à questão geoclimática em decorrência da ação humana
no ambiente, assim como as iniciativas no sentido de reverter os danos
da estiagem. O especialista destaca a sanção, em julho, do Plano
Nacional de Combate à Desertificação e Mitificação dos Efeitos da Seca.
O projeto, que tem por
objetivo criar políticas para combater as consequências da
desertificação, da seca e da degradação do solo, foi aprovado pela
presidente Dilma Rousseff depois de quase duas décadas de debates em
torno do assunto, de importância fundamental principalmente para o
semiárido brasileiro, região situada no Nordeste.
A iniciativa prevê a
adoção de meios para preservar, proteger e recuperar os recursos
degradados pela ação da seca, além de permitir a instituição da Comissão
Nacional de Combate à Desertificação, um órgão que coordenará ações de
instâncias municipais, estaduais e federais no que toca a iniciativas
voltadas para evitar e minimizar os impactos da seca sobre a vida das
populações locais e a agricultura comercial.
O professor lembra que o
Brasil não é o único país que sofre com o risco de desertificações.
Segundo ele, esse é um "processo que pode dizimar parte expressiva das
terras agricultáveis mundiais nas próximas décadas'. As populações de
parte do Nordeste e do Sudeste brasileiro já vêm sentindo alguns efeitos
da estiagem prolongada, agravados pela falta de investimentos públicos
de caráter preventivo.
No caso de São Paulo, o
nível de armazenamento do Sistema Cantareira, que fornece água para boa
parte da capital do Estado, tem ficado bem abaixo de sua capacidade
desde o ano passado, impactando a vida de milhares de pessoas em vários
bairros da cidade e de municípios vizinhos, que ficam com as torneiras
vazias durante várias horas do dia.
8 Narcotráfico e crime organizado no México
Segundo país mais
populoso e rico da América Latina (atrás apenas do Brasil), o México
convive com o fardo de ser vizinho fronteiriço dos Estados Unidos da
América. A sua localização torna-o uma das principais portas de saída de
entorpecentes proibidos para atender os consumidores do país do Tio
Sam, a maior potência econômica do planeta.
Devido a isso, grande
parte do território do México virou, nos últimos anos, palco de uma
sangrenta guerra entre as forças legalistas do governo e poderosos
cartéis de narcotráfico transnacionais, que atuam como entrepostos,
repassando para os norte-americanos drogas produzidas na América do Sul,
em países como Colômbia e Peru. Os grupos mais ativos operam a partir
de Estados como Sinaloa, Jalisco e Guerrero.
Uma política intensa de
combate a esses traficantes, respaldada por bilhões de dólares remetidos
pelos Estados Unidos, começou a ser colocada em marcha pelo governo do
presidente conservador Felipe Calderón, eleito em 2006 com a promessa de
vencer os traficantes de drogas. Uma das primeiras estratégias foi
colocar o exército nas ruas. A tentativa, pode-se dizer, fracassou, já
que a violência não parou de crescer, gerando um saldo de cerca de 60
mil mortos ao término dos seis anos da administração repressora de
Calderón. Para se ter uma ideia, entre 2007 e 2011, a taxa de homicídios
mexicana aumentou acima de 200%.
Embora muitos chefes de
cartéis tenham sido detidos ou assassinados pelo governo, outras
lideranças passaram a ocupar o vazio deixado por eles, dividindo a
complexa estrutura do narcotráfico em grupos cada vez mais pulverizados e
hostis. No meio da troca de tiros entre soldados e traficantes, uma das
principais vítimas é a população.
Em setembro de 2014, o
mundo se comoveu com a divulgação do desaparecimento de 43 estudantes de
uma faculdade rural de Ayotzinapa, ao sul da Cidade do México. Eles
foram rendidos por policiais da cidade de Iguala enquanto planejavam ir
de ônibus a um protesto. Durante a abordagem, a polícia matou três
alunos, que estavam desarmados. Todos os outros desapareceram. Uma linha
da investigação informa que a polícia os entregou para serem mortos por
membros do cartel Guerreros Unidos. Os corpos ainda não foram
identificados.
Outra notícia
relacionada à luta contra o narcotráfico no México que chocou o mundo
veio a público em julho deste ano, quando Joaquín Guzmán, conhecido como
El Chapo, escapou pela segunda vez de um presídio do país. Desta vez,
ele, que é chefe do cartel de Sinaloa e uma das pessoas mais procuradas
internacionalmente, fugiu por um túnel escavado sob um presídio de
segurança máxima. Um hipótese é que autoridades possam estar envolvidas.
9 Tensões na América do Sul
O continente em que
vivemos também virou foco de atenção nos últimos meses em virtude de
dois conflitos: um que está em processo de suspensão e o outro bastante
recente. O primeiro, no interior da Colômbia, envolve o governo federal
daquele país e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). O
segundo, na fronteira colombiana com a Venezuela.
Num gesto histórico, os
líderes do governo da Colômbia e das Farc deram início, no primeiro
semestre deste ano, a uma série de tratativas para pôr fim ao prolongado
embate que, nas últimas cinco décadas, provocou cerca de 220 mil
mortes, além de milhões de refugiados. O presidente de Cuba, Raúl
Castro, intermedia os diálogos de paz, que também é acompanhado pela
Noruega.
Recentemente, o
presidente Juan Manuel Santos informou que pretende lançar um referendo
para consultar a população a respeito do acordo de paz. Já o líder das
Farc, Timoleon Jimenez, conhecido como Timochenko, deu ordens para
suspender os cursos de instrução militar da organização.
O pano de fundo da
histórica luta entre o governo colombiano e as Farc é político, já que o
embate armado se iniciou em função de divergências ideológicas -- as
Farc defendem a implantação do socialismo no país, enquanto o governo
central tradicionalmente se divide entre a liderança de liberais e
conservadores, ambos à direita no espectro político.
A outra tensão que vem
preocupando os sul-americanos se situa na fronteira da Colômbia com a
Venezuela. Em agosto, uma emboscada feriu alguns militares venezuelanos
que patrulhavam a região para evitar o contrabando de alimentos e
combustíveis. Como resposta, mil colombianos que viviam ilegalmente no
país vizinho foram deportados pelo governo do presidente Nicolás Maduro,
que chegou a fechar parte da divisa. Vinte mil colombianos, temendo a
deportação, decidiram deixar a Venezuela depois do início da crise.
Aviões militares venezuelanos teriam invadido o espaço aéreo da
Colômbia, o que foi negado por Caracas.
Os dois governos
chamaram de volta seus embaixadores posicionados do lado de lá da
fronteira. Negociações costuradas pelo Equador e pelo Uruguai tentam
apaziguar os ânimos das duas nações.
10 Movimentos separatistas
A Catalunha, região
autônoma do nordeste espanhol, reviveu em setembro o sonho de se tornar
independente de Madri. Nas eleições para a escolha do presidente
regional, a coalizão formada pelos dois maiores partidos
independentistas, batizada de estrategicamente de "Juntos pelo sim",
reconduziu ao cargo o atual dirigente, Artur Mas.
No Parlamento, os
independentistas obtiveram a maioria dos assentos. O velho debate sobre a
soberania catalã volta ser a aceso com força total, despertando a
reação do primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, e a de outros
líderes europeus, contrários à secessão espanhola.
De acordo com o
professor de geografia Danilo Simões, da Oficina do Estudante, para o
Enem, os candidatos devem atentar para alguns deles.
No ano passado, a
Escócia decidiu, por meio de um referendo, manter-se vinculada ao Reino
Unido. O caso chamou a atenção para a série de movimentos separatistas
que pipocam no mundo.
A mobilização na
Escócia, que é ligada, por meio do Reino Unido, à Inglaterra, à Irlanda
do Norte e ao País de Gales, encampava uma vontade do governo local de
garantir mais liberdade ao país. A questão envolve aspectos culturais,
mas também econômicos: no Mar do Norte, os escoceses dominam grandes
jazidas de petróleo -- contudo, sobre sua exploração, incidem impostos
estabelecidos pelo Reino Unido. Os defensores da união do reino alegam
que a exploração desses recursos evoluiu devido também aos esforços dos
demais membros.
De qualquer forma, mesmo
com a vitória do "não" à separação, a tendência é de uma maior
autonomia do Parlamento da Escócia em relação a Londres.
Outro movimento separatista de destaque atualmente inclui o da região da Chechênia, na Rússia, na região do Cáucaso.
Do UOL