quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Professor troca baixo salário no Maranhão para colher maçã no Rio Grande do Sul


— Você é o único formado da família e vai atravessar o Brasil para apanhar maçã?
A pergunta foi feita a Leandro da Silva Sampaio pela mãe, quando contou a ela que viajaria de Anajatuba, no Maranhão, até Vacaria, no Rio Grande do Sul — uma distância de aproximadamente 3,5 mil quilômetros.
Professor de Pedagogia, o maranhense de 26 anos é um dos 84 trabalhadores que lotaram dois ônibus e viajaram quase três dias para colher maçã na Rasip, uma das maiores produtoras da fruta do país. A escolha pelos pomares do Sul, após lecionar em escolas municipais, foi racional.
— Para conseguir um contrato temporário em Anajatuba, tenho de ficar batendo na porta de político — reclama Sampaio, formado em 2011 pela Faculdade Atenas Maranhense, em São Luís (MA).

Na coordenação de uma escola de Anajatuba, com contrato temporário de 40 horas, o professor ganhava pouco mais de R$ 1 mil.

— Sem contar que nunca tive nenhum apoio pedagógico para formação continuada. Isso vai desanimando — conta o jovem.

Com a mulher grávida de cinco meses, Sampaio acabou optando por buscar uma renda maior em um período menor de tempo. Nos 90 dias em que trabalhará na colheita, calcula ganhar cerca de R$ 2 mil por mês, sem nenhum custo com alimentação e hospedagem.

Na lida nos pomares, é chamado de professor pelos conterrâneos desde o primeiro dia da colheita. Convivendo com pessoas que sequer concluíram o Ensino Fundamental, Sampaio diz aprender a cada dia:

— Minha avó sempre dizia que, às vezes, a sorte da gente não está no lugar onde nascemos.

Essa é a primeira vez que a Rasip traz mão de obra do Maranhão para a colheita de 1,1 mil hectare em três pomares. Dos 2 mil safristas contratados para o período, 1,8 mil foram buscados fora do Rio Grande do Sul, em Estados como Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso.

— Passamos o ano todo buscando trabalhadores em novas regiões do país para chegar nessa época e termos a mão de obra necessária — conta o agrônomo Lindemar Luiz Cozzatti, gerente de fruticultura da Rasip, que deverá colher 50 mil toneladas até o fim da safra, em maio.

Por Joana Colussi - Zero Hora