Só de ouvir o ronco do motor do caminhão dos coletores de lixo, o pequeno Davi Alves dos Santos, de 6 anos, já abre um grande sorriso. Ainda que o portão o impeça de ver de onde seus amigos de roupa laranja venham, ele sabe que a espera tem hora marcada para acabar, já que todas as segundas, quartas e sextas à noite, os garis passam pelas ruas da Vila Rezende, em Piracicaba (SP), onde mora o garoto. Ele é fã de carteirinha, ou melhor, de uniforme, desses profissionais que não deixam o lixo se acumular na portas das residências. "Gosto deles porque eles deixam a cidade limpa", falou timidamente o menino.
De botas, boné e luvas, iguais as dos profissionais, ele se prepara para 'desempenhar' a função daqueles que tanto admira. “Eles já devem estar chegando, são meus melhores amigos”, afirmou. O encontro é saudado com um cumprimento e um abraço sincero. "Não há reconhecimento maior de nosso trabalho do que esse", disse o gari Lucélio Nascimento, de 26 anos. "Desde que comecei a trabalhar nesta empresa de coleta, Davi nos acompanha, é um orgulho para nós", completou.
Curiosamente, a primeira resposta de Davi quando indagado sobre o que gostaria de ser quando crescer sem titubear foi "jogador". Depois corrigiu: "E gari também, como meus amigos", disse a criança.
A admiração pelo trabalho dos garis começou ainda mais cedo. A mãe do garoto, Ana Paula Alves dos Santos, de 37 anos, contou que sempre foi assim, desde que Davi tinha 3 anos.
“Ele escutava o barulho do caminhão e corria para frente da casa para entregar a sacolinha de lixo nas mãos dos coletores”, contou. Como reconhecimento da amizade, o menino ganhou dos coletores uma réplica do uniforme, confeccionado especialmente para ele.
Quando os garis se atrasam, o menino espera. Na segunda-feira, os rapazes passaram mais tarde do que o de costume. "Eram 23h, ele já estava prestes a dormir, mas ao escutar o caminhão, correu para a área externa de casa. Mesmo sem o uniforme, conseguiu dar um aperto de mão em seus amigos", relatou a mãe.