A 4ª Turma do Tribunal
Regional Federal da 1ª Região (TRF1) manteve, parcialmente, a condenação
de um engenheiro agrônomo acusado de sacar, por sete anos, a
aposentadoria do pai falecido.
O réu foi multado e
condenado a quatro anos de reclusão em regime aberto, pena substituída
pelo pagamento de cestas básicas a uma entidade beneficente. A sentença
também previa a devolução de R$ 56,4 mil aos cofres públicos, mas este
ponto acabou revisto pela 4ª Turma.
Conta nos autos que o
engenheiro, na qualidade de procurador de seu pai, continuou utilizando o
cartão bancário para efetuar os saques, mesmo após a morte do genitor,
ocorrida em janeiro de 1994.
Denunciado pelo
Ministério Público Federal (MPF), ele passou a responder por estelionato
qualificado, crime previsto no artigo 171 do Código Penal.
Em sua defesa, o réu
alegou ter agido de boa-fé e afirmou que só continuou a receber as
parcelas da aposentadoria por acreditar ter direito aos valores. Isso
porque seu pai havia designado o neto – filho do réu – como beneficiário
da pensão por morte, que tem valor igual ao da aposentadoria. Dessa
forma, o engenheiro não pediu a conversão do benefício, mas, ao
contrário, limitou-se a renovar a procuração que lhe dava o direito de
sacar o dinheiro.
Na ocasião em que foi
revalidar a procuração, em 1996, o réu chegou a assumir um Termo de
Responsabilidade em que se comprometia a informar o óbito de seu pai. Os
saques, contudo, só foram interrompidos em 2001, após a constatação da
fraude durante inspeção interna do INSS. “Pela prova documental e a
dupla confissão, não vejo como atribuir credibilidade às alegações de
boa-fé do réu, na medida em que somente com o uso da fraude poderia
manter a administração em erro para que pudesse continuar a receber o
valor da aposentadoria”, afirmou o juiz da 3ª Vara Federal em Belém/PA.
“O réu é pessoa instruída e conhece a legislação de regência da pensão
por morte”, completou o julgador.
Recurso
Insatisfeito com a
sentença, o acusado recorreu ao TRF da 1ª Região. Ao analisar o caso, o
relator da matéria na 4ª Turma, juiz federal convocado Pablo Zuniga
Dourado, confirmou o entendimento de primeira instância de que o
engenheiro agrônomo agiu de má-fé e com dolo contra a Administração
Pública. “A materialidade e autoria delitivas restaram devidamente
comprovadas”, frisou o magistrado.
No voto, o relator
também negou a ocorrência de prescrição levantada pelo réu. A defesa
alegou que o caso estaria prescrito porque a morte se deu em 1994 e a
denúncia só foi apresentada em 2009, mais de 15 anos depois. O juiz
federal Pablo Dourado, no entanto, esclareceu tratar-se de “crime
instantâneo de efeitos permanentes”. Por isso, o prazo prescricional
deve passar a ser contado à partir do último recebimento fraudulento do
benefício previdenciário, datado de março de 2001. Como a prescrição
para esse tipo de crime, aliado à pena imposta, é de oito anos e a
denúncia foi oferecida em janeiro de 2009, a alegação da defesa foi
totalmente afastada pelo relator.
Por fim, o magistrado
atendeu ao pedido do réu de desconsideração da reparação do dano, no
valor mínimo de R$ 56,4 mil. Isso porque a lei que modificou o artigo
387 do Código de Processo Penal (CPP), dando ao juiz a prerrogativa de
instituir valor mínimo para ressarcimento de danos causados por atos
ilegais, só foi editada em 2008, antes do ajuizamento do caso em
questão. “Em observância ao princípio da irretroatividade da lei penal
mais severa, é inviável a incidência do regramento do artigo 387, IV, do
CPP (que possui nítido caráter material), ao caso concreto”, finalizou o
relator.
O voto foi acompanhado pelos outros dois magistrados que integram a 4ª Turma do Tribunal.
Processo nº 0001045-96.2009.4.01.3900
Do TRF1