As evidências demonstram que a quantidade de lixo gerada tem crescido consideravelmente nos últimos anos, mas quando se trata de quantificar os dados, “as disparidades nos levantamentos estatísticos constituem controvérsia endêmica entre os especialistas em resíduos”, assinala Maurício Waldman, autor de Lixo: Cenários e Desafios (Cortez Editora, 2010), em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line.
Numa “radiografia quantitativa” a partir de estudos franceses, é possível que os resíduos urbanos globais oscilem entre 2,5 e 4 bilhões de toneladas, com uma “margem de erro”, conforme destaca o pesquisador, “note-se bem: uma margem de erro de ‘apenas’ 1,9 bilhão de toneladas de sobras”. No Brasil, a conta gira em torno de “78,4 milhões de toneladas, uma massa de refugos considerável sob qualquer ponto de vida”, pontua. E informa: “A população brasileira aumentou 15,6% entre 1991 e 2000. Entretanto, neste mesmo período, o lixo domiciliar expandiu-se 49%, três vezes o índice demográfico”.
Doutor em Geografia e referência em pesquisas sobre a problemática do lixo no Brasil,Waldman está cursando o terceiro pós-doutorado, estudando especialmente a reciclagem dos resíduos sólidos, e alerta para a ampliação acelerada de novas toneladas de lixo produzidas no Brasil. “As cidades brasileiras ampliaram os descartes no biênio 2012-2013, de 201.058 toneladas de lixo por dia para 209.280 toneladas. Uma expansão assombrosa de 4,1% em apenas doze meses! Uma calamidade se pensarmos as formas de gestão de resíduos em curso no país, a começar pelas 20 mil toneladas diárias que sequer são coletadas, dos mais de 3.500 lixões ativos e a continuidade do descaso com o trabalho dos catadores”, menciona.
Waldman chama a atenção para as propagandas em torno do “lixo zero”, lembrando que “não existe erradicação total do lixo”, porque “toda atividade humana gera resíduo, sendo que deste montante devemos excluir os rejeitos, sobras não passíveis de reaproveitamento”.
Foto: enviada pelo entrevistado
Maurício Waldman é doutor em Geografia, mestre em Antropologia e graduado em Sociologia pelaUniversidade de São Paulo – USP. Cursou pós-doutorado em Geociências pela Universidade de Campinas – UNICAMP e em Relações Internacionais pela USP.
Waldman iniciou em janeiro de 2014 seu 3º pós- doutorado, pesquisa centrada na área do meio ambiente com foco na questão dos catadores, incineração e reciclagem dos resíduos sólidos. A investigação possui respaldo institucional daUniversidade do Oeste Paulista – UNOESTE, de Presidente Prudente, e financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq. Maurício Waldman foi Chefe da Coleta Seletiva de Lixo da Capital paulista e Coordenador do Meio Ambiente em São Bernardo do Campo. Realizou duas traduções de monta: El Ecologismo de los Pobres – Conflictos Ambientales y Lenguajes de Valoración (de Joan Martinez Alier) e Fifty Major Philosophers (de Diané Collinson). Mais informação no Portal Acadêmico do Professor Maurício Waldman: www.mw.pro.br.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Sabe-se que a geração de lixo no Planeta tem crescido incessantemente. Existem dados a este respeito?
Maurício Waldman - Sim e não. Retenha-se que as disparidades nos levantamentos estatísticos constituem controvérsia endêmica entre os especialistas em resíduos. Seguramente, tal assertiva poderia ser estendida à totalidade dos prontuários contábeis devotados ao tema. Citando um exemplo paradigmático, os resíduos urbanos globais oscilariam numa radiografia quantitativa da lavra de especialistas franceses, entre 2,5 e 4 bilhões de toneladas. Note-se bem: uma margem de erro de “apenas” 1,9 bilhão de toneladas de sobras. Assim sendo, é obrigatório ressalvar que qualquer número apresentado pode apresentar discrepâncias de índole diversa.
IHU On-Line – É possível estimar quantas toneladas de lixo são produzidas no Brasil anualmente?