Na quinta-feira, o Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (CETIC.br) divulgou a TIC Domicílios 2013, versão mais recente da pesquisa mais abrangente sobre o uso de computadores, internet e telefone celulares no Brasil.
Na avalanche de informações, ficamos sabendo, por exemplo, que 2013 foi o primeiro ano na história no qual mais brasileiros usam a internet que não. No ano que vem, dada a toada dos últimos anos, 2014 deverá ser o primeiro ano no qual a maioria dos lares brasileiros terá um computador, fenômeno alimentado pelo crescimento nas vendas de laptops (ano que vem, é provável que os laptops tomem a liderança dos desktops entre os tipos de consumidores que temos em casa). Se você tem interesse no assunto, perca um tempo nas tabelas e na apresentação da pesquisa.
Todas as estatísticas sobre computadores, telefones e banda larga são incrementais, uma gotinha a mais num balde já relativamente cheio. Menos uma. O dado que mais chamou atenção na pesquisa toda diz respeito ao uso de internet pelo celular no Brasil. Em 2010, 4% da população brasileira usava o smartphone para ver e-mails e navegar em redes sociais. No ano passado, o número saltou para 31%, um aumento de quase oito vezes em três anos. Há algo aqui que merece ser analisado com um pouco mais de atenção. O que justifica o violento crescimento entre 2010 e 2011 do gráfico acima, quando o número quase quadruplicou? O desespero da Tim. Em 2010, como parte de uma estratégia agressiva para retomar participação de mercado perdida, a operadora italiana lançou o primeiro serviço de internet pré-paga por 50 centavos de real por dia. Juntas, as apostas fizeram da Tim a operadora que mais cresceu no mercado brasileiro de telecomunicações dos últimos anos. A operadora ficou líder dos pré-pagos no Brasil, categoria de serviço de três quartos dos brasileiros, e ultrapassou a Claro na vice-liderança do setor geral.
Com a debandada de usuários pré-pagos para a Tim, as operadoras rivais Oi, Claro e Vivo também criaram pacotes de acesso à internet com chamadas de longa distância por um preço fixo nos meses seguintes. Estava pronto o cenário para que o uso de internet no celular (3G, preponderantemente) se popularizasse no país. Ao desbloquear o acesso à internet pelo celular dos planos pós-pagos, as operadoras incentivaram o uso da maior fatia dos consumidores nacionais (os pré-pagos), o que por sua vez significou a base para que o mercado de apps se fortalecesse por aqui. É impossível imaginar a popularização do Waze, preferido por quem precisa enfrentar horas semanais de congestionamento, ou o Tinder, para solteiros e puladores de cerca de ocasião, sem planos de 3G mais baratos. É difícil também pensar na proliferação de aplicativos de táxi não fossem planos do tipo, não só pelo consumidor, mas também pelos taxistas. A web pré-paga não é o único fator, vale esclarecer: o barateamento de smartphones e a tradicional venda à prestação também ajudou. WhatsApp? Facebook? Estariam aí ainda, mas certamente menos populares. Se hoje você tem campanhas publicitárias em apps e empreendedores buscando criar o próximo Waze no Brasil é por que uma operadora com market share em queda resolveu apostar em algo que parecia, em curto prazo na época, uma barbeiragem.
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