Algumas vezes é preciso arriscar-se mais do que de fato gostaríamos. Cautelosamente pincelo críticas e aponto reflexões há um bom tempo, seja aqui na Folha do Estado ou no Blog Aprendizagem Humana, sempre cuido para não afastar colocações opostas, e evito também contextos de certezas absolutas, pois não condizem com minhas linhas reflexivas. No entanto, o tom desta atual escrita exige condutas diferentes.
Acho o título deste artigo um tanto polêmico, mas é o destino do meu pensamento quando observo as atuais questões enfrentadas pelas nossas escolas brasileiras. Analisemos, pois, pensando por outro viés, existem propostas diferenciadas encontradas em alguns cantos do país, onde certas escolas parecem estar na frente, testando, inovando e, o melhor de tudo, ousando. Pensemos na escola Campos Salles, no interior de São Paulo, é um dos exemplos no âmbito público com mudanças que despertam a atenção. Porém, a certeza de que esta referência ou outras poderão realmente ganhar mérito, somente o tempo dirá, mas não demorará, guardo esta convicção.
Nossas escolas devem ser divididas por salas e idades, ou não? Completamente tecnológicas, ou apenas parcialmente? Discutir como serão as estruturas físicas e materiais das escolas do futuro compõe, sem dúvida alguma, fator relevante a ser analisado. Seja quanto à sua função, estrutura, conteúdo, ou método, as escolas de todos os séculos continuarão tendo papeis insubstituíveis e indispensáveis, desde que não funcionem nos moldes como estão fazendo hoje.
A aprendizagem humana, processo que acompanha lado a lado o desenvolvimento dos seres humanos, em qualquer idade, é o tipo de coisa que na contemporaneidade não possui mais a necessidade de acontecer como alguns insistem em fazê-lo.
Dificuldade de libertar-se? Talvez. Sufocamento burocrático, imposto pela hierarquia de posições dentro da escola? É uma alternativa, mas deveria e precisa ser vencida. Policio-me para não ser contaminada com as atuais descrenças no potencial dos professores. Conheço várias exceções, nas quais sei que posso acreditar.
Ainda que, particularmente, acredite de forma muito positiva em meus colegas professores, o que a sociedade percebe nos alunos leva à desconfiança e descrédito compreensíveis, até certo ponto. De fato, não é difícil notar que ao nosso redor muitos alunos perderam o prazer pelas escolas e pelos processos de aprendizagem. Muitos encontram brecha para desafiar e bagunçar.
Realmente lamentável! Ao mesmo tempo em que procuro equilibrar confiança e dúvida, o cotidiano traz à tona uma nuvem negra que se instalou não somente sobre os professores, mas também em relação ao que a sociedade revela a respeito do valor dado à aprendizagem escolar. A escola como está, já faleceu! Exagero? Talvez sim, mas pensemos também que, talvez não. Depende.
Precisamos dar muito mais atenção ao caso. O contexto desta escrita não é opinião de quem vive do lado de fora, no estilo palpiteiro e venenosamente crítico, ao contrário, é tentativa de unir-me aos que já atuam visando o renascimento escolar.
Acredito veementemente na mágica força contida nos grupos de professores. A reconstrução escolar, em minha mente, já está nascendo, e na realidade de muitos educadores também. Penso na força que possuem os grupos. Como em sonhos, já vejo quase o irreal tornar-se verdade: escolas transformadas por professores que sairão de suas salas, com o mesmo tipo de força daqueles que lutam por uma vida melhor, digna e coerente. Professores que lutam não apenas pela sua sala de aula, mas pelo que entendem de uma sociedade e o papel da aprendizagem escolar. Lutas para além do muro escolar! A atual geração de professores pode ser a mais lembrada pelos próximos séculos. Para isso precisam transformar em resultados as competências que possuem, indo além dos obstáculos que visam freá-los.
De que adiantam as inúmeras habilidades se não fizerem surgir diferentes realidades? Não temos ainda todos os pilares consolidados, com teorias amadurecidas e prontas a serem aplicadas. Estamos vivendo um período de reconstrução do conceito escolar. Muitas escolas ainda precisam ser reinventadas. Somos a geração da reconstrução escolar, isso exige posturas diferentes por parte do papel da escola, sociedade e família.
O país necessita de novas propostas curriculares e metodológicas que desconstruam o atual conceito negativo. Precisamos de pais que também façam parte deste processo, direta ou indiretamente e, obviamente, de uma sociedade mais madura e participativa. Vamos reconstruir a escola! Ergamos a bandeira da aprendizagem, que é criativa, prazerosa, misteriosa, completamente rica e envolvente. Se os nossos alunos e seus familiares não estão entendendo que aprender pode ser tudo isso, paremos e refaçamos o processo.
Que meu filho, e muitos alunos, possam entender que além das aprendizagens possíveis via tecnologia, a escola é também um universo de possibilidades tão interessantes quanto o mundo virtual. Roberta Leal Pimentel – mestre em educação, criadora do Blog Aprendizagem Humana e colunista semanal na Folha do Estado.
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